sábado, 16 de setembro de 2017

Tomar conta

Apressando-nos para casa, o vento ostenta que não nos valeríamos ao relento se não fosse Verão. E, contudo, quem nos vale são pessoas que também não sobreviveriam ao relento, ainda que tantas o façam. "Nesta vida, não apenas temos mas somos os nossos corpos." Aço, cimento, tijolo, pele: fronteiras que o fogo ou a água facilmente arrasariam. Subindo a escada do prédio, vinda da rua, Mini, a caniche de um vizinho bombeiro, ladra como um cão de guarda ligado à electricidade. Não precisamos de saber como nos chamamos para tomarmos conta uns dos outros. Talvez tomar conta também seja andar equivocado sobre quem está próximo, conclusão contrária à nostalgia pelo tempo em que os vizinhos se conheciam bem.
Djaimilia Pereira de Almeida, Ajudar a cair.

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