domingo, 30 de abril de 2017

Domingo no mundo (7)

Charles Burchfield, August Cloud, 1947.

sábado, 29 de abril de 2017

We will not sleep, but we shall all be changed

Transhumanism offered a vision of redemption without the thorny problems of divine justice. It was an evolutionary approach to eschatology, one in which humanity took it upon itself to bring about the final glorification of the body and could not be blamed if the path to redemption was messy or inefficient. Within months of encountering Kurzweil, I became totally immersed in transhumanist philosophy. By this point, it was early December and the days had grown dark. The city was besieged by a series of early winter storms, and snow piled up on the windowsills, silencing the noise outside. I increasingly spent my afternoons at the public library, researching things like nanotechnology and brain-computer interfaces. 
Once, after following link after link, I came across a paper called “Are You Living in a Computer Simulation?” It was written by the Oxford philosopher and transhumanist Nick Bostrom, who used mathematical probability to argue that it’s “likely” that we currently reside in a Matrix-like simulation of the past created by our posthuman descendants. Most of the paper consisted of esoteric calculations, but I became rapt when Bostrom started talking about the potential for an afterlife. If we are essentially software, he noted, then after we die we might be “resurrected” in another simulation. Or we could be “promoted” by the programmers and brought to life in base reality. The theory was totally naturalistic — all of it was possible without any appeals to the supernatural — but it was essentially an argument for intelligent design. “In some ways,” Bostrom conceded, “the posthumans running a simulation are like gods in relation to the people inhabiting the simulation.”
Meghan O'Gieblyn, Ghost in the Cloud.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

A vida como ela é

But then it occurred to me that perhaps this affable and entertaining gentleman was the person my father was always meant to be, or had possibly always been, albeit only with others. Children always imagine that their parents’ truest selves are as parents. But why? “No one truly knows his own begetting,” Telemachus bitterly observes, early in the Odyssey. Indeed. Our parents are mysterious to us in ways that we can never quite be mysterious to them.
Daniel Mendelsohn, A Father’s Final Odyssey.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Giverny seja aqui

Claude Monet, Giverny na Primavera, 1900.

sábado, 22 de abril de 2017

A fermosura desta fresca serra

Ilha da Madeira.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Ai, as saudades que eu tenho de uma bela feirinha medieval

[...] intervenções urbanas, apresentadas como animação, ou revitalização, ou animação cultural ou outros termos a que associo alguns desastres: profusão de mobiliário urbano, incluindo bancos, banquinhos e vasos de flores de desenho torturado, esculturas esburacadas para as crianças brincarem, pistas de 'skate' nos sítios mais surpreendentes, luz eléctrica a mais (amarelo a sair das janelas e focos de projectores e as sombras correspondentes), concursos de 'graffittis' arruinantes, espectáculos musicais por todos os cantos, invasões de esculturas, fontes e mais fontes — e muito mais.
Álvaro Siza, 01 Textos.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Tirante as belas senhoras e as belas colinas

Quando, vindo do Porto, aqui cheguei para estudar Direito no Campo de Santana, em 53, a cidade tinha pouco mais de um quilómetro, era quase uma aldeia. Andávamos habitualmente a pé, e sempre à roda do Rossio, em territórios belarminianos. A Estrela, o Parque Eduardo VII eram sítios já fora de portas. Aluguei um quarto na Avenida da Liberdade, mesmo em frente aos cisnes e aos ratos, ao lado das velhas senhoras da Buchholz, do Rilke e do Beguin, e da pastelaria Bijou que o O’Neill haveria de imortalizar.

Comia no antigo Tivoli, uma pensão familiar, não longe da mesa da Beatriz Costa. Estudava numa cave, entre bilhares, ao lado do Dona Maria e do café Gelo. Via ‘westerns’ no Coliseu, e fitas finas na geral do outro Tivoli, a 4 escudos o bilhete. Ceias, quando as havia, eram no velho Gambrinus. De raro em raro, viam-se filmes clássicos e pintores modernistas no Palácio Foz e novos pintores no Chiado. A faculdade era furiosamente cinéfila, por via dos católicos progressistas, os CCCs Bénard, Bragança, Tamen. Ao São Jorge e ao Condes ia-se nos dias de estreia, para namorar ou cobiçar mulheres inatingíveis. Uma em especial perturbava um amigo filósofo, Nuno Basto, e que nos parecia o próprio pecado. Anos mais tarde, já menos fatal, levaram-me a casa dela, a acompanhar um escritor maldito francês: era a Natália Correia. Os anos 50 eram os anos Cesariny. Em casa dos Portas, o Carlos, agrónomo, dizia-me os poemas dele de cor. Tirante as belas senhoras e as belas colinas, o Cesariny era a única coisa lisboeta digna de relevo. Em tudo o mais, a capital salazarista parecia-me mais retraída do que o Porto, mais longe de Europa. [...] Cineastas daqui, não conhecia nenhum. No Porto havia o Oliveira, a Agustina, o Andersen, o Távora, o Resende, o António Pedro do Teatro Experimental... o umbigo do mundo. Os meus heróis eram do Norte.
Paulo Rocha, início de um texto de homenagem a Fernando Lopes.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Fim de tarde estival

P.S. Kroyer, Anna Ancher e Marie Kroyer, 1893.

O retorno à memória — como quem, ao cair da noite, acende um candeeiro

— Que está a escrever actualmente?
— Poemas. Com rima. Compreende, já quase não vejo, já não posso escrever, e não posso fazer rascunhos. Em verso livre é mais difícil compor mentalmente [...] Ao passo que assim agarramo-nos à rima.
De uma entrevista a Jorge Luis Borges.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Cinco estrelas

Reviewers fifty years ago were by today's standards extraordinarily tough. They said exactly what they thought, even about their most influential contemporaries. Listen, for example, to Randall Jarrell's description of a book by the famous anthologist Oscar Williams: it 'gave the impression of having been written on a typewriter by a typewriter.' That remark kept Jarrell out of subsequent Williams anthologies [...] Their praise mattered, because readers knew it did not come lightly.
Dana Gioia, Can Poetry Matter?

Request fulfilled

Noutro capítulo — mas com ligações espirituais a este —, recordo como a banda filarmónica destes arrabaldes respondeu às vozes críticas que pediam uma abordagem mais contemporânea* ao exercício: com uma versão desta música.

* Para falar a verdade, arredondei a reclamação: pedia-se, sim, que tocassem umas coisas mais modernas.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Uma ode à natureza

Trabalho sobre a energia da matéria, sobre a natureza, sobre os elementos — a água, a terra, o fogo e o ar. Tenho um grande amor pela natureza. Trabalho sobre árvores, não sobre madeira. Nunca cortei uma árvore.
Alberto Carneiro, que nos deixou ontem mais pobres.

domingo, 16 de abril de 2017

Domingo [de Páscoa] no mundo (6)

Gaston Phoebus, Le livre de chasse, c.1407.

O bom hábito de não julgar que se sabe o que o leitor quer ler, embora dito assim soe apenas a mau feitio

— Para quem escreve?
— Não escrevo para ninguém. Seria a última coisa, rebaixar-me a isso! Escreve-se pela coisa em si.
— No entanto, dirige-se às pessoas. Fala-lhes, interpela-as, desculpa-se de as esquecer...
— É um truque. Na verdade, desprezo-as. O que pensam e o que não pensam!... Se uma pessoa se preocupa com o que pensam, fica à mercê dos leitores, do leitor, e está tudo dito!
Céline numa entrevista, em 1957.

sábado, 15 de abril de 2017

O lado do sol

Margem do rio Lis, esta manhã, atrás da rodoviária (a apanhar por tabela a voz do costume nos altifalantes a anunciar os destinos).

Now the Green Blade Riseth

http://nyrbclassics.tumblr.com/post/159577560242/now-the-green-blade-riseth-a-carol-for-easter

quinta-feira, 13 de abril de 2017

A música, de uma maneira geral, é sacra

Thomas Tallis, Lamentações de Jeremias.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Assim como eu

Leonard Bernstein com a sua roupinha de trazer por casa.
Fot. de Stanley Kubrick, 1949.

terça-feira, 11 de abril de 2017

A avó Laura

Jacinto A. Moniz Bettencourt, Praia Formosa, Funchal, 1920.
Laura Estela Magna dos Santos Moniz de Bettencourt, a avó de Lourdes Castro, foi a primeira aluna do liceu do Funchal, entre 1887 e 1893, então na rua dos Ferreiros n.º 165. Mais tarde proprietária e directora do Colégio João de Deus à rua da Carreira n.º 56.

These Boots Are Made for Walkin'

Além disso, antes de casar, veja as liberdades que o meu pai tinha e que nenhum milionário conseguia alcançar. Sabia fazer um sapato! E queria viajar. Então, pôs a sua pequena toilette (o que se chamava toilette era um quadrado de pano preto), pôs lá cabedal, as ferramentas, pendurou aquilo num pau e partiu a pé, estrada fora! Quando já não tinha dinheiro, sentava-se na praça pública de uma aldeia, com as suas coisitas, e as pessoas traziam os sapatos para ele consertar. Deu assim a volta à Europa, sem ninguém o incomodar, sem a mínima preocupação. Era um senhor. Tinha uma vida de aristocrata. Era um grande aristocrata. Ponha o mesmo operário na Bata*, fica a coser entressolas toda a vida.
* Fábrica das sapatarias Charles lá  do sítio.
Jean Giono numa entrevista, em 1960.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Turururu

JOSÉ CARDOSO PIRES:
Olha o Sol! Chegou o Sol! Ó, pátria querida!

CLARA FERREIRA ALVES:
Pois é, está a ficar solinho.

JOSÉ CARDOSO PIRES:
Agora está bom, está sol a aparecer.

CLARA FERREIRA ALVES faz que sim com a cabeça.
Introdução do documentário José Cardoso Pires — Diário de Bordo, de Manuel Mozos.

Orfeu da Conceição

Eurídice:
     
            Diz que mulher tem alma de gato. Tem.

domingo, 9 de abril de 2017

Domingo no mundo (5)

Henri Matisse, La desserte rouge, 1908.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Elogio do «mas»

Existem momentos para o sim e para o não, que são os momentos de crise. Fora de tais momentos, o sim e o não constituem uma política de amador.
Maurice Merleau-Ponty numa entrevista, em 1958.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Part time

Alistado na Resistência, especialista em descarrilamentos, aproveita um período de inactividade para escrever Drôle de Jeu [...]
Madeleine Chapsal na introdução de uma entrevista a Roger Vailland.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Tenha um dia feliz, senhor Tarkovsky, apesar das ligações difíceis

This evening Rondi laid on dinner for me in a small restaurant called Cesarina. Lizzani and his wife, Fellini and Giulietta Masina, Rondi, Lora and I. It was somehow very nice. I tried to telephone Moscow from there, but it was no good. The operator said the receiver was not in place in Moscow. Now I am back here: Lora booked a call for me, and I am waiting for them to ring. Maybe I shall be able to talk to Larissa after all. 
Andrey Tarkovsky, Time Within Time: The Diaries 1970–1986
Entrada de 4 de Abril de 1982, o dia do seu quinquagésimo aniversário. 

Um pequeno consenso à volta de Sartre

[...] os seus óculos grossos, a sua pele de batráquio, aquele olho que se afasta de lado [...] Perguntávamo-nos porque não cuidava um pouco daquela epiderme defeituosa. Olhávamos as suas pequenas mãos que viviam e se agitavam no espaço. O sorriso não mostrava dentes perfeitos... Sartre não era um Adónis.
Madeleine Chapsal na introdução de uma entrevista a Sartre, em 1959.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

À espera do Verão

Louise Dahl-Wolfe, Lauren Bacall, 1943.

domingo, 2 de abril de 2017

Lacaniana

Transposta a porta do restaurante, Lacan imobilizava-se e despojava-se ostensivamente da capa ou do sobretudo de twill que estendia ao acaso a quem passava, ainda que fosse um cliente! Depois ficava à espera, com aquele ar profundamente aborrecido e preocupado que afectava quando não se ocupavam dele imediatamente, até que o chefe-de-mesa ou o gerente do estabelecimento se precipitava.

Então, com um gesto lasso e como se não conseguisse aguentar-se mais tempo de pé, Lacan apoiava-se ao acaso a um ombro, soltando num tom dolente: «Caro, onde me senta?...» O pessoal, certamente guloso das suas boas gorjetas, apressava-se a conduzi-lo à «sua» mesa, em toda a parte e sempre a melhor.

Mal se sentava, inclinava-se para mim, rodeava com o braço as costas da minha cadeira e, virando a cabeça para a sala, lançava numa voz de estentor: «Está bem, minha querida? Se não, vamo-nos embora!...» Todos os olhares convergiam para nós! Pronto: éramos as vedetas!
Madeleine Chapsal na introdução de uma entrevista a Jacques Lacan, em 1957.

Domingo no mundo (4)

Henri Fantin-Latour, Roses, 1871.

sábado, 1 de abril de 2017

A importância de desenhar

Falando em termos gerais, quem escolhe fazer arquitectura não precisa de "saber desenhar",  muito menos de "desenhar bem". O desenho, entendido como linguagem autónoma, não é indispensável ao projecto. Muita e boa arquitectura se fez e se faz "à bengala".
Só que toda a gente pode e precisa de desenhar.
A obsessiva especialização atrofia capacidades universais; a alguns é permitido e imposto desenvolver umas tantas—e não outras. E no entanto, no respeito ao desenho, qualquer criança se exprime com frescura e rigor; e os inadaptados e os considerados loucos.
Os erros e a submissão de quem ensina levam a que de quase todos finalmente se diga: não tem "jeito". Ou a que os próprios o digam.
O desenho é uma forma de comunicação, com o eu e com os outros. Para o arquitecto, é também, entre muitos, um instrumento de trabalho; uma forma de aprender, compreender, comunicar, transformar: de projecto.
Outros instrumentos poderá utilizar o arquitecto; mas nenhum substituirá o desenho sem algum prejuízo, nem ele o que a outros cabe.
A procura do espaço organizado, o calculado cerco do que existe e do que é desejo, passam pelas intuições que o desenho subitamente introduz nas mais lógicas e participadas construções; alimentando-as e delas se alimentando.
Todos os gestos—também o de desenhar—estão carregados de história, de inconsciente memória, de incalculável, anónima sabedoria. É preciso não descurar o exercício, para que os gestos não se crispem, e com eles o resto.
Álvaro Siza, 01 Textos.

Do dia.