quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A casa

Creio que era sobretudo a mochila, que mais tarde Austerlitz me contou ter comprado por dez xelins numa loja na Charing Cross Road, de um lote de excedentes militares suecos, pouco antes de iniciar os seus estudos, e à qual se referia como o único bem verdadeiramente de confiança existente na sua vida; e terá sido esta mochila, ao que creio, o que então me deu a bizarra ideia da semelhança entre ele, Austerlitz, e o filósofo falecido de cancro em Cambridge, em 1951. Também Wittgenstein andava sempre com uma mochila, em Puchberg e em Otterthal, bem como quando foi para a Noruega, ou para a Irlanda, ou para o Cazaquistão, ou passar o Natal a casa das irmãs, na Aleegasse. Essa mochila, que Margarete diz numa carta ser-lhe tão querida como o seu próprio irmão, viajava sempre com ele para toda a parte, atravessou mesmo, ao que creio, o Oceano Atlântico a bordo do navio de linha Queen Mary e depois foi de New York para Ithaka.
Sebald, Austerlitz; tradução de Telma Costa.

Sem comentários:

Enviar um comentário